Ainda não ganhei 1 milhão na Mega Sena e a despeito dos fortes rumores que também nessa seara há uma gangue que controla os jogos e os resultados, continuo jogando. Vai que dá certo!
Tampouco herdei o montante, participei de alguma pirâmide, ou descobri algum investimento financeiro miraculoso que me gerasse tal resultado.
A experiência de hoje começa numa tarde ensolarada e despretensiosa de inverno e pós almoço com minhas filhas.
Temos uma regra em casa que só tem direito a sobremesa aquele que comer tudo que está no prato. Essa etapa fora bem cumprida e para dar um bônus perguntei se queriam ir tomar um sorvete aqui do lado, e de patins… Festa total!
Na volta e a apenas uns 50 metros de casa vi algo na calçada a nossa frente que parecia uma cédula de dinheiro. Estava camuflada, quase integrada ao piso num tom sobre tom que possivelmente passou despercebido aos olhos de muitos. A nota estava bem dobrada, gasta e tinha aquela cara de dinheiro suado, ganho com esforço e tão bem escondido no bolso do dono que deve estar procurando-a até hoje. Era uma nota de R$ 10,00.
Ao identificar o que era, as meninas já deram uma solução imediata para o achado, “vamos voltar e comprar chocolate pai!” Mas eu já tinha outros planos.
Decidi guardar aquele bem e entregar a alguém a quem o valor realmente pudesse fazer a diferença. Não tinha ideia alguma de qual seria o sinal, a senha, mas algo me dizia que eu saberia exatamente o momento de passar a nota adiante.
Por diversas vezes e no período em que ela esteve comigo pensei em usá-lo como parte de algum pagamento, para facilitar o troco e repô-la oportunamente, mas logo reprimi estes impulsos. Parece que se eu a trocasse, algo importante se perderia. Estranho, inexplicável, talvez alguma energia oculta que desconheço.
Ontem por volta das 19:00 e cumprindo o ritual diário, sai pela segunda vez com as cachorras. A despeito de já estarmos na Primavera, o vento estava gelado. Aquele vento que corta, que faz a cabeça doer. Atravessei a rua e vi algo que não via a muito tempo aqui no bairro. Uma carroça de madeira, dessas em que o pessoal recolhe recicláveis e outras coisas que normalmente são descartadas em caçambas ou no lixo. Ainda fitando a carroça e pensando no apelido “burro sem rabo”, alusivo aos carroceiros, do nada surge uma pessoa na minha frente. Era o dono da carroça que estava na câmara de lixo do prédio recolhendo recicláveis, e ao sair para depositá-las no seu veículo, ficamos a centímetros de bater um no outro. Estranhamente as cachorras ficaram imóveis, e ele quebrou o silêncio me olhando bem no fundo dos olhos, dando um educado boa noite! Na hora entendi que era o tão esperado sinal, mas, eu ainda queria ter certeza absoluta.
Continuei o passeio e 20 minutos depois ao voltar, o Cássio, (nome que vim a saber depois) continuava ali. O chamei e perguntei se qualquer item de plástico serviria para gerar dinheiro, com o que me respondeu positivamente. Convidei o então para recolher da minha garagem alguns sacos com itens de plástico os quais tradicionalmente dou para uma instituição com o mesmo propósito.
Nos poucos minutos em que transportamos os sacos da garagem á carroça, fiz algumas indagações, entre elas se tinha filhos. A dele de 7 meses estava ali na carroça, cuidadosamente disposta e enrolada numa manta, mas já aprendendo as duras lições da vida. Linda, risonha, … me senti ridículo só de pensar que reclamo das coisas…
Saquei os R$ 10,00 do bolso entreguei ao Cássio, apertei a mão dele retribuindo o boa noite, desejando a ele e família saúde e luz. Um olhar agradecido de quem sabe que aquela nota fará a diferença nem que fosse só para aquela noite e a exclamação. “Deus lhe pague”… aqueles R$ 10,00 acabaram de render 1 Milhão!
Esse não foi o fim da história pois ainda desci com a mais velha que ao saber da presença da pequena naquelas condições deliberadamente resolveu doar um bicho de pelúcia á Isabelle… Mais um momento especial.
Obrigado Cássio, esposa e Isabelle pela oportunidade e pelo aprendizado.
Ótima semana a todos e desejo que possamos todos encontrar muitas notas de R$ 10,00 e muitos Cássios na vida!
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