O título do post de hoje foi pego emprestado do livro de autoria de Roberto Freire.
Joaquim Roberto Corrêa Freire foi um médico psiquiatra e escritor brasileiro, conhecido por ser o criador de uma nova e heterodoxa técnica terapêutica denominada Soma, baseada no anarquismo e nas ideias de Wilhelm Reich.
Segundo a Livraria Saraiva uma das que comercializa o livro, o autor introduz o conceito de tesão na cultura brasileira. Ela revela uma nova prática, que partiu da juventude, de libertar-se das repressões sociais e políticas através do sexo. Foi a descoberta de uma sensualidade mais clara e intensa, ligada a uma real sensação de estar vivo. Este livro muito influenciou a introdução do uso dessa palavra, com seu atual significado, no português falado no Brasil, deixando de ser chula e ganhando todas as faixas etárias e camadas sociais, com seu atual sentido: paixão por algo que desperte prazer total.
Li o livro há muitos anos atrás e a despeito do rico conteúdo, o que nunca saiu da minha cabeça foi o título.
No início achava que era pelo termo polêmico “Tesão”, mas o que realmente me tocou e toca até hoje é o contexto brilhante consolidado numa única frase.
Uso essa frase que parece simples como balizador, gatilho para a tomada de algumas decisões na vida.
Recentemente isso aconteceu no campo profissional.
Recebi o convite para participar de um processo seletivo. Conhecia bem a empresa, portanto e mesmo sem saber mais detalhes sobre salário, pacote de benefícios a primeira pergunta que veio a minha cabeça foi: desenvolver essa atividade vai me dar prazer?
A resposta era negativa, mas por outro lado não seria sensato declinar usando apenas um parâmetro, então decidi ouvir mais sobre a proposta. Vai que era um “compensation package” daqueles tipo mosca branca, eu até poderia pensar em reavaliar meu conceito inicial, mesmo sabendo que a médio, longo prazo isso teria um ônus importante.
Com o aprofundamento das informações a primeira impressão se consolidou e acabei declinando.
Nem tudo no mundo corporativo é um mar de rosas, ao contrário, a pressão por resultados é grande, as margens de erro são pequenas, a tolerância muitas vezes inexiste, por isso é fundamental gostar minimante do que se faz. Preferencialmente gostar muito!
Creio sinceramente que nossa passagem pelas empresas tem um ciclo bem definido com início, meio e fim e não consigo me ver exercendo algo sem vontade ou sem tesão por muito tempo.
Pontos de vista divergentes, negociações para fazer valer suas opiniões, fazer suas ideias serem do outro para poder emplaca-las ok! Isso tudo faz parte do jogo corporativo, mas acordar todo dia e ir a um lugar do qual não se gosta do projeto, das pessoas, do ambiente, do propósito, deve ser muito frustrante, estressante e fazer muito mal à saúde.
Isso me remete a um documentário que vi e marcou muito a minha infância no qual executivos bem-sucedidos, com uma vida financeira mais do que confortável para as próximas gerações se queixavam de não ter aproveitado melhor a vida. Algo forte, triste, de certa forma melancólica, até porque àquela altura pouco poderiam fazer para reverter essa sensação. Naquele momento e sem sequer ter qualquer conhecimento do livro decidi que buscaria algo do que eu realmente gostasse e não somente pelo dinheiro e poder.
O mercado como um todo está sem dúvida muito desafiador e espero sinceramente continuar a ter a opção de decidir o quero e o que não quero fazer porque como preconiza Roberto Freire no título de uma de suas mais importantes obras: Sem tesão não há solução!